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Escudo Mudo

A minha alma é um escudo mudo. É uma melodia de Chopin. É o silêncio de Bethoven. É a discalculia do meu infinito. É a fração do inteiro que coube em mim. E coube. O vazio cria formas e não é mais vazio. A minha alma é uma epifania. Tão peculiar como um cheiro de jornal. É um salto para a insanidade. É a confusão das cores embrulhadas em fitas de cetim. É uma armadura bordada. São reticências que ecoam ao vento. É a solitude plena de alguns goles de Whisky. É como titubear, esse corpo, hospedeiro de Minh’ alma. É um escudo, mudo, prestes a transbordar. Bruna Pinto.

Abstinência

Eu tenho abstinência dos traços que contornam a tua caligrafia. Eu tenho abstinência dos banhos de chuvas disfarçados de bênçãos, ou das espumas que entoavam o teu corpo debaixo do chuveiro.   Eu tenho abstinência dos teus beijos de outono, no mês de novembro. Eu tenho abstinência da tua essência. Inalar a tua pretensão era a maior vaidade em mim. Eu tenho abstinência da estampa da tua pele. Eu tenho abstinência do teu sorriso; a tua melhor marquinha de nascença. Eu tenho abstinência das cocegas das pontas dos teus dedos revelando qualquer emoção em mim. Era o meu melhor disfarce. Eu tenho abstinência da tua doce inquietude. Eu tenho abstinência do teu coração frágil como de um passarinho. Eu tenho abstinência de todo festim e embaraços de sorrisos. Mas, a maior abstinência que eu tenho, é a felicidade que ria em mim.   Bruna Pinto.

Minha Mente

Um grito engarrafado, um suspiro solto, derramado. É apenas a minha mente. São olhos vibrantes, penetrantes, dançantes. Estão invadindo a minha mente. São as parabólicas, os satélites. Mas é apenas a minha mente. É a presença ausente, o contorno no frio do arrepio que faz. É apenas a minha mente. É o abajur de linho que entorna cores e se dissolve em luz. Mas é apenas a minha mente. É o que monta e desmonta o tempo todo, o meu corpo. É apena a minha mente. São as flores que brotam no mês de Julho. É apenas a minha mente. São os teus olhos de pardais que beija a Minh’ alma. É apenas a minha mente. São as outras presenças, que me deixa envergonhada. Mas, é apenas a minha mente. São os pensamentos soltos, tolos, um derrame de todo o sentimento. Mas é apenas a minha mente. São as faltas de interjeições que disparam o alarme, o coração. Mas é apenas a minha mente. As sombras vasculham os quartos da minha cabeça. Mas é apenas a minha mente. O v

Quando vier a Primavera

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Quando vier a Primavera, Se eu já estiver morto, As flores florirão da mesma maneira E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma Se soubesse que amanhã morria E a primavera era depois de amanhã, Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; E gosto porque assim seria, mesmo que não gostasse. Por isso, se morrer agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo. Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.   Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é. Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa.  . Por Kika Hamaoui (Toda Poesia).
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói". (Caio Fernando Abreu)

Borboletinha

Rascunho de seda. Brisa passageira. Manchinha de encantos. Peculiaridade de estrelas. Folhetos de cordel. Romance inventado. Primavera dos jasmins Um carinho entoado. Ah, borboletinha! Cuidado com a chuva. Repousas em meu ombro. Descansa o teu pranto. Se dilua, evolua. Ah, borboletinha! Espera o sol chegar. Balança as tuas asas. Deixa o vento cantar. Poeminha cor-de-rosa. Bailas suspensa no ar. Ah, borboletinha! A menina dos meus olhos. A paz ela semeia. Desenha a última quimera. É a festa da cumeeira. Bruna Pinto.

C O N T ; N U E

Apenas, C O N T ; N U E. A abrir os olhos. A tomar o café da manhã. A caminhar em direção ao sol. A dançar quando a chuva vier. Apenas, C O N T ; N U  E . A ver um arco-íris. A escutar a sua música favorita. A ouvir as ondas do mar. A tomar um chá. A ter alguém para abraçar. Apenas, C O N T ; N U  E . A fazer um poeminha. A fazer uma idéia de chuveiro. A não ser conclusiva. A pensar em fazer vida. Apenas, C O N T ; N U  E . A se encantar com as borboletas. A bater a poeira dos olhos e enxergar estrelas. Apenas, C O N T ; N U  E . A colocar na vitrola uma música do Pixinguinha, sim. Apenas, C O N T ; N U  E . A cantar. A sorrir. A chorar. A sentir. Apenas, C O N T ; N U  E . A se vestir de infinito. A aprender a amar. A aprender a engatinhar. A respirar. Apenas, C O N T ; N U  E . A esperança vem depois do ponto e da vírgula. Apenas, C O N T ; N U  E . Você pode ir mais além do que um ponto final. Apenas, C