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Mostrando postagens de 2018

Escudo Mudo

A minha alma é um escudo mudo. É uma melodia de Chopin. É o silêncio de Bethoven. É a discalculia do meu infinito. É a fração do inteiro que coube em mim. E coube. O vazio cria formas e não é mais vazio. A minha alma é uma epifania. Tão peculiar como um cheiro de jornal. É um salto para a insanidade. É a confusão das cores embrulhadas em fitas de cetim. É uma armadura bordada. São reticências que ecoam ao vento. É a solitude plena de alguns goles de Whisky. É como titubear, esse corpo, hospedeiro de Minh’ alma. É um escudo, mudo, prestes a transbordar. Bruna Pinto.

Abstinência

Eu tenho abstinência dos traços que contornam a tua caligrafia. Eu tenho abstinência dos banhos de chuvas disfarçados de bênçãos, ou das espumas que entoavam o teu corpo debaixo do chuveiro.   Eu tenho abstinência dos teus beijos de outono, no mês de novembro. Eu tenho abstinência da tua essência. Inalar a tua pretensão era a maior vaidade em mim. Eu tenho abstinência da estampa da tua pele. Eu tenho abstinência do teu sorriso; a tua melhor marquinha de nascença. Eu tenho abstinência das cocegas das pontas dos teus dedos revelando qualquer emoção em mim. Era o meu melhor disfarce. Eu tenho abstinência da tua doce inquietude. Eu tenho abstinência do teu coração frágil como de um passarinho. Eu tenho abstinência de todo festim e embaraços de sorrisos. Mas, a maior abstinência que eu tenho, é a felicidade que ria em mim.   Bruna Pinto.

Minha Mente

Um grito engarrafado, um suspiro solto, derramado. É apenas a minha mente. São olhos vibrantes, penetrantes, dançantes. Estão invadindo a minha mente. São as parabólicas, os satélites. Mas é apenas a minha mente. É a presença ausente, o contorno no frio do arrepio que faz. É apenas a minha mente. É o abajur de linho que entorna cores e se dissolve em luz. Mas é apenas a minha mente. É o que monta e desmonta o tempo todo, o meu corpo. É apena a minha mente. São as flores que brotam no mês de Julho. É apenas a minha mente. São os teus olhos de pardais que beija a Minh’ alma. É apenas a minha mente. São as outras presenças, que me deixa envergonhada. Mas, é apenas a minha mente. São os pensamentos soltos, tolos, um derrame de todo o sentimento. Mas é apenas a minha mente. São as faltas de interjeições que disparam o alarme, o coração. Mas é apenas a minha mente. As sombras vasculham os quartos da minha cabeça. Mas é apenas a minha mente. O v

Quando vier a Primavera

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Quando vier a Primavera, Se eu já estiver morto, As flores florirão da mesma maneira E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma Se soubesse que amanhã morria E a primavera era depois de amanhã, Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; E gosto porque assim seria, mesmo que não gostasse. Por isso, se morrer agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo. Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.   Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é. Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa.  . Por Kika Hamaoui (Toda Poesia).
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói". (Caio Fernando Abreu)

Borboletinha

Rascunho de seda. Brisa passageira. Manchinha de encantos. Peculiaridade de estrelas. Folhetos de cordel. Romance inventado. Primavera dos jasmins Um carinho entoado. Ah, borboletinha! Cuidado com a chuva. Repousas em meu ombro. Descansa o teu pranto. Se dilua, evolua. Ah, borboletinha! Espera o sol chegar. Balança as tuas asas. Deixa o vento cantar. Poeminha cor-de-rosa. Bailas suspensa no ar. Ah, borboletinha! A menina dos meus olhos. A paz ela semeia. Desenha a última quimera. É a festa da cumeeira. Bruna Pinto.

C O N T ; N U E

Apenas, C O N T ; N U E. A abrir os olhos. A tomar o café da manhã. A caminhar em direção ao sol. A dançar quando a chuva vier. Apenas, C O N T ; N U  E . A ver um arco-íris. A escutar a sua música favorita. A ouvir as ondas do mar. A tomar um chá. A ter alguém para abraçar. Apenas, C O N T ; N U  E . A fazer um poeminha. A fazer uma idéia de chuveiro. A não ser conclusiva. A pensar em fazer vida. Apenas, C O N T ; N U  E . A se encantar com as borboletas. A bater a poeira dos olhos e enxergar estrelas. Apenas, C O N T ; N U  E . A colocar na vitrola uma música do Pixinguinha, sim. Apenas, C O N T ; N U  E . A cantar. A sorrir. A chorar. A sentir. Apenas, C O N T ; N U  E . A se vestir de infinito. A aprender a amar. A aprender a engatinhar. A respirar. Apenas, C O N T ; N U  E . A esperança vem depois do ponto e da vírgula. Apenas, C O N T ; N U  E . Você pode ir mais além do que um ponto final. Apenas, C

A Liberdade é Azul

Abrindo a janela, dentro de mim, de pijama. Uma luneta manchada em tintas. Uma nódoa na alma. Um portal explodindo feito um cristal que reluzem mil cores. O mundo é diferente da ponte pra cá. Como uma caixa de hi-dro-cor, me faço multicolorida. Perdi-me num tom vermelho, ardil, num relâmpago, qualquer, aqui dentro. Um coágulo verdejante de esperança. Cintila a aurora. Como a doce brancura da macadâmia. Amar-te tem sido como as rosas cor de rosa. Lembranças florais à flor da pele. Abstinência neon é roubar-se de si próprio. As camélias que brotam aqui dentro crescem cada vez mais e mais. Uma roleta-russa, um disparo para o coração. Cores de Almodóvar. Os átomos todos dançam, como um chá de hortelã. Borboletas pousam em meu corpo. Perder-me é um mar índigo. Dentro de mim, sempre em casa, sempre à vontade, de pijama. A liberdade é azul . Bruna Pinto. 

Más(caras)

E se eu abrir as cortinas e acender as luzes? E se eu te convidar para vir ao meu palco? E se eu puxar a cadeira e te convidar para um encontro? E se eu quiser ser a protagonista dessa história? E se eu mostrar os cenários em que andejei? E se eu desvelar as máscaras que já usei? E se eu tirá-las, ainda me olharás com candura? E se eu deixar você me tocar? E se eu te convidar para dançar na chuva que molha aqui dentro? E se eu te convidar para ir a todos os lugares que deixei um pedaço, qualquer, de mim, e também em todos os lugares em que eu sequer estive? Estarás nos meus pulmões quando me faltar ar? E se eu abrir o universo dentro da porta dos meus olhos? E se meu silêncio falar mais alto? Tu ainda me olharás? Com que olhos? Com que olhar? Irás me convidar para brincar? Dirás aleluia quando a Onipotência chegar? Estarás ao meu lado se alguma parte de mim quebrar? Estarás comigo quando minhas más(caras) vierem a se revelar? Saiba, você está no meu

Café.

Como um cheiro de café, me embalas em poesia. Como um cheiro de café, reténs o aconchego dos corações quentes e leves das mães. Como um cheiro de café, tens sentimentos e sabores. Como um cheiro de café, borras todos os sentidos cá em mim. Como um cheiro de café, és estação de um ano inteiro. Como um cheiro de café, transbordas em amores. Como um cheiro de café, revogas todos os dissabores. Como um cheiro de café, tens o sossego. Como um cheiro de café, tens a minha química predileta. Como um cheiro de café, possuis o amargor e a doçura das emoções. Como um cheiro de café, remontas em minhas memórias. Como um cheiro de café, implodes em minhas saudades. Como um cheiro de café, teu sorriso bucólico. Como um cheiro de café, jaz o extrato do meu coração desafinado. Como um cheiro de café, nutres o perfume da felicidade. Como um cheiro de café, um jeito de felicidade. Como um cheiro de café, despertas o amanhecer. Como um cheiro de café, tens os ensejos;

A Sorte.

Joguei uma dezena e fiz dez mandingas para ver se te encontro em alguma esquina. Apostei uma centena, me perdi na terceira ordem, e não enxergo teus passos. Já tentei jogar a milhar sob as estrelas, mas não te alcanço. Unidade efêmera. Joguei moedas e não tive sorte. Acendi à fogueira, joguei o jogo das rosas. Consultei os búzios, mas os orixás metem a direção. Me perdi nas cartas de tarô. Em que astrologia você se encontra? Em que casa do zodíaco você mora? Em que órbita você se esconde? Em qual lua te encontro? Em qual oceano? Eu joguei o jogo. Ah... Grande amor, se eu não te achar, eu te invento. É sorte? Bruna Pinto.

pra você dar o nome... *

Hoje, não quero similar a luz com a escuridão, a vida com a morte os teus olhos com poesia. Hoje, como ontem, me sinto em sinestesia. Amanhã será amanhã.   Pode ser? A vida é esférica e eu não sou um parágrafo. Quantos quereres cabem em mim. Hoje, não queria fazer rimas e nem projetar adjetivos para que teus olhos possam se agraciar. Hoje, quero ser mais que verbo. Hoje, vou ser pronome. Hoje quero apenas correr para fora das paredes. Agraciar um pedaço do céu, tomar banho de chuva. Hoje eu quero escalar o vento, sentir o cheiro da terra molhada e dançar uma ciranda. Hoje, quero poder ver o arco-íris nascer, a semente florescer e os frutos colher. Hoje, eu quero sair pra brincar, amar, cantar, sonhar. Em... 5, 4, 3, 2, 1... Estou mandando o medo ir embora. Hoje a coragem bateu na minha porta. Hoje, quero abrir os olhos e não quero atalhos. Hoje, quero me despir. Há tantas verdades nas verdades e mais verdades ainda. Não quero estar entre os classifi

Minh ‘alma?

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Preciso tragá-la vez em quando. Somos loucas, uma pela outra. Vivemos assim: vez outra eu n’ela, vez outra Ela em mim. Bruna Pinto.

O Beijo

Eu beijei o céu das minhas faces. Cada Eu, cada verdade, toda mentira, cada ilusão, todas as palavras repetidas e rimas contidas. Fechei os olhos e enxerguei labirintos, chaves coloridas, estrelas em dias de chuva, em dias de lua; centrífugas. Eu beijei o rio que corre em minhas entranhas. Cada barulho, cada silêncio, todo festim, cada ilusão, todas as borboletas que borbulham feito bolas de sabão. Eu beijei os deuses que habitam em mim. Intentos, intensos, dedilhando cada cômodo inteiriço em mim. Eu beijei o chão dos teus pés. Mergulhei, afundei, sublimei. Eu gritei! Gritei como uma mariposa que atravessa a luz. O fogo oculto que transforma. Eu beijei. Tu beijaste. Ela beijou. Nós beijamos. Vós beijastes. Elas beijaram. Conjugaram-se ! E o beijo foi no meu chão. Cosmos em plena radiação. Eu beijei. Mas beijei o universo que eu-sou. Bruna Pinto.

Ela

Ela é um banho de anil. Ela é Luz, Furta-cor, índigo. Ela é mais do que fitinhas co lo ri da s . Ela é proteção. Ela é corante, substância que pigmenta a razão. Ela é um mapa de curvas que vibra, inebria. Ela abre alas, abre as cortinas amareladas. Ela é porta-bandeira, flor da laranjeira. Ela é o encanto das águas. Ela é um sorriso, um toque, um Gin. Ela é um átomo feito de histórias. Ela é um verso de Tom Jobim. Ela é corajosa, espada preciosa. Ela é destilada. Ela é um encontro embriagador. Ela é um balanço no quintal. Ela é linda. Ela é uma vírgula, respiração que finda. Ela é 1ª pessoa, ela é pronome, ela é singular. Ela é o canto da cigarra em pensamentos. Ela é camaleoa. Ela é mulher. Mulher que brilha, mulher florida. Ela é apenas Ela entre tantas Elas. Ela é tudo, e tudo é só isso. Bruna Pinto.

A DOSE

Uma dose de whisky para desfazer esse nó na garganta enquanto enxergo pro que tenho visto acontecer diante dos meus olhos. Duas doses de Whisky para derramar toda culpa em você. Três doses de whisky enquanto escuto música. - Estou no último volume. Quarta dose de whisky e ainda sentindo teu cheiro em cada cômodo do meu corpo. Quinta dose de whisky e chorando pelo meu próprio caos. Sexta dose de whisky e começo a te xingar, a derramar tinta preta nas paredes e a maldizer teu nome. Sétima dose de whisky e já estou dançando uma música qualquer. Oitava dose de whisky e me pego rindo. Acendo até um cigarro para tornar tudo mais inspirador. Nona dose de whisky e tropeço nas suas  mentiras . Décima dose de whisky e me desfaço dos teus trapos, de tudo que é você, incluindo uma parte de mim. Décima primeira dose de whisky e começo a ter alucinações auditivas. Em um segundo ouço sua voz dizendo que nada disso é verdade. Mas no próximo, percebi q