A BALA DE MENTA
Se chuva de
pétalas caírem hoje do céu, prometo à magia mais linda do mundo.
(mas não se empolguem muito)
(mas não se empolguem muito)
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Sem mais porquês,
o pânico foi me tomando, fui sufocando, passos fui dando e tentei abrir a
porta. Parei.
Fechei os olhos e
olhei. Mas, olhei profundamente o que ninguém mais podia ver. E chorei, chorei
e chorei. Ah, era uma dor que parecia não ter fim.
Acalmei! Vi o
tempo movendo-se na minha frente, mas resolvi apanhar um ônibus, qualquer
caminho era o destino.
E sentei. Do lado direito o corredor, do lado
esquerdo Ela. (cabelos grisalhos, o penteado mais parecia com o da vovó, sabe?
Óculos na cara, roupa simples, meio desdentada e duas sacolas na mão).
Ao lado direito D’ela, Eu, ao lado esquerdo a
janela. E as rodas começaram a percorrer pelo chão... E o ônibus segue em
frente, e vai para a esquerda e vai para a direita e da volta e voltas.
E o primeiro gesto.
A senhora do lado
esquerdo (como resolvi chamá-la), agacha e pega em sua sacola duas balas de
menta. Uma ela abre imediatamente e ligeiramente põe em sua boca (a fome
parecia grande demais), a outra ela me ofereceu, num simples gesto suave com as
mãos que mais pareciam plumas, completamente diferente da voracidade quando ela
pôs a bala em sua boca. Os seus olhos olharam para os meus com um tom de
graciosidade, a sua boca mesmo ocupada desfrutando da bala, apresentou-me um
sorriso, um sorriso com uma melodia que há muito tempo não ouvira... E mal pude
acreditar naquele gesto, que para ela não significava nada, mas para mim
significava tudo. E aceitei, mas, não pus na boca de imediato, guardei em minha
bolsa no fleche do lado direito e disse:
- Obrigada!
- Ela: “de nada”.
E uma brisa forte
entrava pela janela, e o sol passou a ter uma quentura suave, as nuvens do céu
criaram-se formas de flores para enfeitar o caminho por onde perpassávamos. O
movimento do amor parecia constante naquele momento; até a música em inglês que
estava tocando poderia jurar que entendia.
O segundo gesto.
– (a mulher do lado esquerdo) “Ai, que
demora!”. Tempos depois... – Como estou cansada.
Essas palavras me
fizeram refletir, do pânico, do sufoco, da porta, dos olhos e do que eu
enxergara. Eu estava cansada. Cansada de eu, tu, ele, nós, vós, eles. Do
passado, do presente, do delírio do futuro e da insanidade do mundo querer
tornar o pretérito imperfeito em algo perfeito ou mais-que-perfeito, tentando
ser algo indicador para, eu, tu, ele, nós, vós, eles.
Quase por fim, o
terceiro gesto.
– (a mulher do
lado esquerdo) Eu já vou descer. Esperar dar a curva para não cair.
– Tenha um bom
dia! (eu disse). E ela olhou para mim e disse com um largo sorriso no rosto:
– Um bom dia para
você também.
E ela desceu. E eu continuei a seguir o
caminho com meu pânico, o sufoco...
Viver ultrapassa qualquer
arbítrio. Apenas eis de fato aqui, uma moça, com uma bala de menta na boca, com
indagações, indignações com o mundo, apenas buscando e desfrutando os sabores
da vida.
Por fim, o meu
último gesto.
– Obrigada,
desculpa pela demora ao escrever, pois estava cansada, receba o meu sorriso. Do
lado direito, do lado esquerdo, ao seu lado, que você tenha com quem contar. Vislumbrem
o mundo, experimentem o silêncio, o som, a poesia, tenham um bom dia e uma Bala
de Menta para vocês!
Bruna Pinto.
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